domingo, 9 de dezembro de 2012

Relato de Parto Pélvico - Isabelle


Compartilho o Relato de Parto de uma doulanda muito querida, Isabelle. Ajudará muitas mulheres com medo ou dúvidas com relação ao parto de Bebê "sentado"!
Beijos, ana.


Relato de nascimento da Nina:
parto natural, mesmo estando em posição pélvica, após de 41 semanas e 4 dias de gestação, seguidos de 14 horas de parto

Sou francesa e mudei com minha família para o Brasil já gravida de 4 meses e meio. Era a minha terceira gravidez. Minha primeira filha, Lea, nasceu na França após um parto vaginal muito medicalizado (rompimento artificial da bolsa d’agua, injeção de oxítona, episiotomia, fórceps, separação do bebê da mãe, amamentação tardia…) que me deixou um pouco frustrada.

Dois anos mais tarde, também na França, veio o nascimento de minha segunda filha, Stella. Dessa vez com uma parteira no hospital. O parto foi muito mais natural e me deixou bem mais satisfeita. Dessa vez tomei menos anestesia e me preparei com o canto parental e a yoga, a qual pratiquei durante as duas gestações.

Para mim estava bastante claro o que eu gostaria para este terceiro parto aqui no Brasil: eu queria dar à luz se possível sem anestesia e poder andar e me locomover durante o trabalho de parto. Eu queria sentir o máximo possível todo o processo.

Nas diferentes conversas com o médico que me acompanhava comecei a ficar inquieta. Sentia que o meu projeto pessoal de parto dificilmente seria seguido à letra.

Eu conversava com muitas mães para entender como tinha sido o parto delas: a grande maioria falava : “eu queria muito um parto normal e meu médico era a favor mas no ultimo momento não foi possível porque:
- o bebe não descia,
- o cordão estava enrolado,
- não dilatava... etc!
Cheguei à conclusão que ou devia existir um "problema" com 99,9% das mulheres brasileiras ou havia um problema com a maioria dos médicos brasileiros.... Ou ambos!

Cada vez que ia no obstetra saia preocupada porque apesar dele dizer que ia fazer tudo para que o parto fosse normal, não tinha certeza que na hora H não ia "aparecer um problema" forçando-me a ter uma cesárea, como na grande maioria das historias que eu ouvia.

No terceiro ultrassom, com 33 semanas, observamos que a Nina ainda estava em posição pélvica. Eu sentia muito bem a cabecinha dela entre meus peitos. Na consulta da semana 36, o bebê seguia sentado e meu médico disse que nesse caso o procedimento normal seria a cesárea. Comecei a ficar muito angustiada, eu não queria abrir mão do parto normal.

Buscava informações, inclusive na internet para entender o que ajudaria na "virada" do bebê, e se ainda seria possível um parto normal com o bebê "sentado". Entre outras coisas, comecei a fazer acupuntura com a Dra. Janete na casa Moara. Ela também mostrou como fazer moxabustao nos pontos  de acupuntura. Fiz 3 sessões de acupuntura, ficava em várias posições que deveriam ajudar, até fazia cambalhota na piscina, mas nada funcionava. Eu pensei então em fazer uma manobra de versão externa, e conversei com o Dr. Kuhn quem me explicou como ele faria; nesta mesma ocasião, ele me contou que no meu caso ainda era possível ter um parto normal, mesmo com o bebe em posição pélvica.

Com 38 semanas de gravidez, a Nina seguia sentada e meu médico (apesar de antes desaconselhar dessa opção) falou que iria tentar uma versão. Fizemos antes um ultrassom o qual mostrou que o bebe estava com o cordão enrolado no pescoço. Com isso, o médico falou que não poderia fazer a versão e que tinha que ser cesárea mesmo.

Decidi finalmente junto com meu marido que com o Dr. Jorge o meu projeto de parto seria seguido da maneira mais próxima possível. Mudamos de médico! De acordo com o Dr. Jorge mesmo o cordão umbilical não seria um problema para o parto normal.

Neste momento eu já estava quase na 39a semana ! Depois dessa decisão eu fiquei muita mais aliviada, já que finalmente eu acreditava que poderia ter o parto que sonhava.  O doutor Jorge recomendou a presença de uma doula e escolhi a Ana Garbulhos, que adorei desde os primeiros contatos.

Minhas 2 primeiras filhas tinham nascido com 39 semanas e 37 semanas respectivamente, então eu estava convencida que a Nina iria nascer antes da hora também. Mas cheguei ao termo no dia 27 de abril e nada de contrações...Conversei com o Dr. Jorge e decidimos tentar métodos naturais de indução (chá de canela, acupuntura...), mas nada dava resultado. No sábado 5 de maio (41 semanas + 2 dias), a Ana efetuou um descolamento de membrana, tive algumas contrações durante a noite mas parou rapidamente.  Seguindo os conselhos da Dra. Janete, a acupunturista, eu comecei a fazer caminhadas rápidas de manha e noite.

No domingo a noite (dia 6 de maio), me senti muito cansada e acordei por volta das 3h30 da manha com uma dor estranha (parecia um chute forte do bebê), me levantei da cama e saiu muita agua, sem parar.  Liguei para Ana e o Dr. Jorge e ambos pediram para esperar as contrações chegarem. Meia hora depois as contrações chegaram já bastante fortes e regulares, por isso fomos para o hospital. Chegamos às 6 horas da manha junto com o Dr. Kuhn e a Ana. Eu estava já dilatada de 7 a 8 dedos. Pensei que o trabalho de parto ia ser rápido; mas a mudança de lugar e o ambiente hospitalar deram uma diminuída nas contrações  e só cheguei à dilatação total às 14h !

Ter a Ana ao meu lado foi muito importante para mim: eu andava, me agachava durante as contrações, tomava ducha, ela me fazia massagem... Às 14h mudamos para a sala de parto, e de novo as contrações deram uma diminuída devido à mudança de ambiente. O anestesista fez uma peridural para a expulsão, para já estar preparado caso precisasse de uma intervenção de urgência, e colocaram ocitocina para acelerar as contrações. Eu estava sentada num banquinho e comecei a fazer força para a saída do bebê. Apos algum tempo vimos que os batimentos cardíacos da Nina não se recuperavam bem entre as contrações, então mudamos de posição. Eu já estava muito cansada, mas fiz força até o bumbum da Nina sair, seus ombros e por ultimo sua cabeça. 
O Dr. Gabriel Ventura que me ajudou muito na fase expulsiva, confirmou que o coração dela batia bem e esperamos para cortar o cordão (o cordão não estava mais enrolado no pescoço dela quando ela saiu da barriga).  Depois foi a primeira mamada e a saída da placenta !

Às 18h nasceu nossa filha Nina, depois de 14 horas de trabalho de parto!  Graças ao Dr. Ventura a Nina não teve colírio no olho nem injeção ao nascer. Essa gravidez e parto foram uma aventura que nunca vou esquecer !

A Nina no dia seguinte foi diagnosticada com uma displasia do quadril (talvez por isso que ela não conseguia virar) e teve que ficar 1 mês e meio com um pavlick (espécie de "suspensório"). Agora ela já esta ótima ! Eu fiz aula de reeducação do períneo com a Dra. Myriam já que na França isto é obrigatório fazer antes de voltar a fazer uma atividade esportiva.

Através dessa minha aventura que compartilho aqui, eu gostaria de falar a outras mulheres que não desistam do seu sonho de parto, e que é muito importante poder confiar plenamente  no seu médico. Em caso de duvida, não tenha medo de mudar e colocar todas as chances do seu lado ! Eu mudei com quase 39 semanas de gestação! Ter a ajuda de uma doula fez muita diferença, sobretudo se você quer a aventura de experimentar  pouca ou nenhuma anestesia !


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