Compartilho o Relato de Parto de uma doulanda muito querida, Isabelle. Ajudará muitas mulheres com medo ou dúvidas com relação ao parto de Bebê "sentado"!
Beijos, ana.
Relato de nascimento da Nina:
parto natural, mesmo estando em posição pélvica, após de 41 semanas e 4
dias de gestação, seguidos de 14 horas de parto
Sou francesa e mudei com minha família para o Brasil já
gravida de 4 meses e meio. Era a minha terceira gravidez. Minha primeira filha,
Lea, nasceu na França após um parto vaginal muito medicalizado (rompimento
artificial da bolsa d’agua, injeção de oxítona, episiotomia, fórceps, separação
do bebê da mãe, amamentação tardia…) que me deixou um pouco frustrada.
Dois anos mais tarde, também na França, veio o nascimento de
minha segunda filha, Stella. Dessa vez com uma parteira no hospital. O parto foi
muito mais natural e me deixou bem mais satisfeita. Dessa vez tomei menos
anestesia e me preparei com o canto parental e a yoga, a qual pratiquei durante
as duas gestações.
Para mim estava bastante claro o que eu gostaria para este terceiro
parto aqui no Brasil: eu queria dar à luz se possível sem anestesia e poder
andar e me locomover durante o trabalho de parto. Eu queria sentir o máximo
possível todo o processo.
Nas diferentes conversas com o médico que me acompanhava
comecei a ficar inquieta. Sentia que o meu projeto pessoal de parto
dificilmente seria seguido à letra.
Eu conversava com muitas mães para entender como tinha sido o
parto delas: a grande maioria falava : “eu queria muito um parto normal e meu médico
era a favor mas no ultimo momento não foi possível porque:
- o bebe não descia,
- o cordão estava enrolado,
- não dilatava... etc!
Cheguei à conclusão que ou devia existir um "problema"
com 99,9% das mulheres brasileiras ou havia um problema com a maioria dos
médicos brasileiros.... Ou ambos!
Cada vez que ia no obstetra saia preocupada porque apesar
dele dizer que ia fazer tudo para que o parto fosse normal, não tinha certeza que
na hora H não ia "aparecer um problema" forçando-me a ter uma cesárea,
como na grande maioria das historias que eu ouvia.
No terceiro ultrassom, com 33 semanas, observamos que a Nina
ainda estava em posição pélvica. Eu sentia muito bem a cabecinha dela entre
meus peitos. Na consulta da semana 36, o bebê seguia sentado e meu médico disse
que nesse caso o procedimento normal seria a cesárea. Comecei a ficar muito
angustiada, eu não queria abrir mão do parto normal.
Buscava informações, inclusive na internet para entender o
que ajudaria na "virada" do bebê, e se ainda seria possível um parto
normal com o bebê "sentado". Entre outras coisas, comecei a fazer
acupuntura com a Dra. Janete na casa Moara. Ela também mostrou como fazer
moxabustao nos pontos de acupuntura. Fiz
3 sessões de acupuntura, ficava em várias posições que deveriam ajudar, até
fazia cambalhota na piscina, mas nada funcionava. Eu pensei então em fazer uma
manobra de versão externa, e conversei com o Dr. Kuhn quem me explicou como ele
faria; nesta mesma ocasião, ele me contou que no meu caso ainda era possível ter
um parto normal, mesmo com o bebe em posição pélvica.
Com 38 semanas de gravidez, a Nina seguia sentada e meu médico
(apesar de antes desaconselhar dessa opção) falou que iria tentar uma versão.
Fizemos antes um ultrassom o qual mostrou que o bebe estava com o cordão
enrolado no pescoço. Com isso, o médico falou que não poderia fazer a versão e
que tinha que ser cesárea mesmo.
Decidi finalmente junto com meu marido que com o Dr. Jorge o
meu projeto de parto seria seguido da maneira mais próxima possível. Mudamos de
médico! De acordo com o Dr. Jorge mesmo o cordão umbilical não seria um
problema para o parto normal.
Neste momento eu já estava quase na 39a semana ! Depois
dessa decisão eu fiquei muita mais aliviada, já que finalmente eu acreditava que
poderia ter o parto que sonhava. O
doutor Jorge recomendou a presença de uma doula e escolhi a Ana Garbulhos, que adorei
desde os primeiros contatos.
Minhas 2 primeiras filhas tinham nascido com 39 semanas e 37
semanas respectivamente, então eu estava convencida que a Nina iria nascer
antes da hora também. Mas cheguei ao termo no dia 27 de abril e nada de
contrações...Conversei com o Dr. Jorge e decidimos tentar métodos naturais de
indução (chá de canela, acupuntura...), mas nada dava resultado. No sábado 5 de
maio (41 semanas + 2 dias), a Ana efetuou um descolamento de membrana, tive
algumas contrações durante a noite mas parou rapidamente. Seguindo os conselhos da Dra. Janete, a
acupunturista, eu comecei a fazer caminhadas rápidas de manha e noite.
No domingo a noite (dia 6 de maio), me senti muito cansada e
acordei por volta das 3h30 da manha com uma dor estranha (parecia um chute forte
do bebê), me levantei da cama e saiu muita agua, sem parar. Liguei para Ana e o Dr. Jorge e ambos pediram
para esperar as contrações chegarem. Meia hora depois as contrações chegaram já
bastante fortes e regulares, por isso fomos para o hospital. Chegamos às 6
horas da manha junto com o Dr. Kuhn e a Ana. Eu estava já dilatada de 7 a 8
dedos. Pensei que o trabalho de parto ia ser rápido; mas a mudança de lugar e o
ambiente hospitalar deram uma diminuída nas contrações e só cheguei à dilatação total às 14h !
Ter a Ana ao meu lado foi muito importante para mim: eu
andava, me agachava durante as contrações, tomava ducha, ela me fazia
massagem... Às 14h mudamos para a sala de parto, e de novo as contrações deram
uma diminuída devido à mudança de ambiente. O anestesista fez uma peridural
para a expulsão, para já estar preparado caso precisasse de uma intervenção de
urgência, e colocaram ocitocina para acelerar as contrações. Eu estava sentada
num banquinho e comecei a fazer força para a saída do bebê. Apos algum tempo vimos
que os batimentos cardíacos da Nina não se recuperavam bem entre as contrações,
então mudamos de posição. Eu já estava muito cansada, mas fiz força até o
bumbum da Nina sair, seus ombros e por ultimo sua cabeça.
O Dr. Gabriel Ventura que me ajudou muito na fase expulsiva,
confirmou que o coração dela batia bem e esperamos para cortar o cordão (o
cordão não estava mais enrolado no pescoço dela quando ela saiu da
barriga). Depois foi a primeira mamada e
a saída da placenta !
Às 18h nasceu nossa filha Nina, depois de 14 horas de
trabalho de parto! Graças ao Dr. Ventura
a Nina não teve colírio no olho nem injeção ao nascer. Essa gravidez e parto
foram uma aventura que nunca vou esquecer !
A Nina no dia seguinte foi diagnosticada com uma displasia
do quadril (talvez por isso que ela não conseguia virar) e teve que ficar 1 mês
e meio com um pavlick (espécie de "suspensório"). Agora ela já esta
ótima ! Eu fiz aula de reeducação do períneo com a Dra. Myriam já que na França
isto é obrigatório fazer antes de voltar a fazer uma atividade esportiva.
Através dessa minha aventura que compartilho aqui, eu gostaria
de falar a outras mulheres que não desistam do seu sonho de parto, e que é
muito importante poder confiar plenamente
no seu médico. Em caso de duvida, não tenha medo de mudar e colocar todas
as chances do seu lado ! Eu mudei com quase 39 semanas de gestação! Ter a ajuda
de uma doula fez muita diferença, sobretudo se você quer a aventura de experimentar pouca ou nenhuma anestesia !
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